Percebi que se podiam seguir doentes durante décadas. E que as pessoas se confiavam a si, como se fosse um amigo, um sábio amigo. Essa empatia, criava laços fortes e duradouros. Aliava isso a uma linguagem simples, que todos entendiam, mas que lhes dava conhecimentos preciosos para ter saúde.
Os conselhos tinham a simplicidade que só os visionários conseguem. Como a ideia de que bastava o Titanic ter mudado a rota dois ou três graus, ainda longe do iceberg e teria evitado o acidente. Dizia isso aos jovens. Pequenas mudanças no estilo de vida podiam evitar complicações no futuro.
Tinha a humildade de reconhecer quando não sabia. Só os grandes fazem isso. Na frente do doente, o grande Professor retirava um tratado da estante e com o livro pousado nos joelhos, começava ali mesmo o estudo. Muitas vezes alheando-se, atrasando ainda mais as já atrasadas consultas. E os doentes não reclamavam. Sabiam que também eles seriam tratados como se houvesse todo o tempo do mundo.
Quantas vezes terminámos a consulta depois da uma da manhã. E sempre com o entusiasmo de quem gosta do que faz. Intervalado por vezes com uma espreitadela na novela das nove ou no futebol que passava na TV, enquanto saboreava a sua coca-cola de estimação e a sandes de pasta de amendoim, hábitos americanos que nunca perdeu.
Meia noite. Eu estourado. E o Prof., nos seus oitentas: - ainda aguentas ver mais um Araújo?
Consigo aprendi a importância da mensagem ser simples e da empatia com os doentes. De que nunca devemos perder a humildade. De que o estudo e o trabalho compensam. De que a prevenção é educação.
Foi um privilégio ter trabalhado consigo Mestre."