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PRIMARY CARE SUMMIT ACADEMY 2022

PCS Academy

Hipercolesterolemia Familiar (HF)

 

Materiais informativos

Hipercolesterolemia Familiar (HF)

Desenvolvidos pelo “International FH Paediatric Register”.

Uma cortesia do Grupo de Investigação Cardiovascular do INSA para chegar as famílias com crianças com FH para que melhor compreendam a sua doença e vivam melhor com ela.

Foram desenvolvidos para idades diferentes com conteúdos adaptados:

segunda-feira, 23 janeiro 2023 18:10

"The year in cardiovascular medicine 2022: the top 10 papers in dyslipidaemias"

Comentário ao artigo por Dr. Aberto Mello e Silva

O ano 2022 foi fértil em produção científica para a Medicina Cardiovascular. Dois Past-President da Sociedade Europeia de Aterosclerose, Lale Tokgozoglu e Alberico Catapano, e Carl Orringer, publicaram no início de 2023* uma seleção dos artigos Top 10 na área da dislipidemia que partilho convosco.

Notas soltas sobre os 10 Top:

- CORDIOPREV Trial, realizado pelos nossos vizinhos da Espanha, num único centro que envolveu 1002 doentes com doença coronária crónica, com uma média de idades de 59,5 anos, 82,5 % do sexo masculino, alocados para uma dieta pobre em gorduras e alto teor de hidratos de carbono complexos  (<30 % gordura total e < 10 % gordura saturada) ou uma dieta Mediterrânica (≥35 % gordura total, 22 % gordura mono-insaturada) e restrição de colesterol <300 mg/dia, nos dois regimes dietéticos. A média de seguimento foram sete anos. As duas curvas começaram a separar-se ao fim de três anos e a dieta Mediterrânica foi superior em todos os resultados principais, um composto de enfarte do miocárdio, revascularização, acidente vascular cerebral isquémico, doença arterial periférica e doença cardiovascular.                                    

- A prevalência da intolerância às estatinas (prefiro falar em sintomas musculares associado às estatinas/SMAE para não estigmatizar negativamente as estatinas!), é menor nos ensaio clínicos aleatorizados (RCT) vs estudos de coorte (4.9 % vs 17 %), e também nos estudos de prevenção primária e secundária vs quando são analisados separadamente (18 %, 8.2 %, 9.1 %). A idade, o género feminino, asiáticos e negros e a presença de obesidade, diabetes mellitus, hipotiroidismo, doença hepática e renal crónicas, estão significativamente associadas à intolerância às Estatinas/SMAE.

- Os estudos com os inibidores PCSK9 (Evolocumab e Alirocumab) confirmam que em doentes de elevado e muito elevado risco cardiovascular, importa não só um valor-alvo de C-LDL “quanto mais baixo melhor” (FOURIER-OLE [FOURIER Open-Label Extension], mas também “quanto mais cedo melhor” (estudo PACMAN-AMI), para uma maior redução do risco de eventos cardiovasculares. Também são tranquilizadores para os doentes e clínicos, a % de ocorrência de eventos adversos associados a estas terapêuticas, nomeadamente no FOURIER Open-Label Extension, com uma extensão de seguimento com Evolocumab até oito, quatro anos (média de cinco anos).

- Os inibidores da proteína de transferência do éster de colesterol (CETP), poderão ser “ressuscitados”, se para além do aumento quantitativo do C-HDL, também reduzirem o C-LDL. Poder ser um “come back” dos –trapib (Anacetrapib), mas com critérios mínimos – há benefícios cardiovasculares se houver concomitantemente uma redução do C-LDL.

- Dois importantes reguladores do metabolismo das Lipoproteínas ricas em Triglicéridos (LRT), a proteína 3 semelhante à angiopoietina (ANGPTL3) e a apolipoproteína C-III (apoC-III), estão associados a eventos cardiovasculares como confirmam estudos de aleatorização genética. Novas terapêuticas baseadas em ácidos nucleicos tendo como alvo a ANGPTL3 e a apoC-III (Vupanorsen e Olezarsen, respectivamente), foram testados como alvo para uma redução de DCVA. Há toxicidade hepática com Vupanorsen o que levou à suspensão de desenvolvimento.

- A Lp(a) é um novo fator de risco para a estenose aórtica. A interpretação da concentração da Lp(a) e da sua interação com o risco de DCVA, aponta para uma abordagem semelhante aos outros fatores de risco causais para a DCVA, como o C-LDL, isto é, em contexto do risco global absoluto de DCV. Ao contrário do que se podia supor, não há dados que suportem a Lp(a) como fator de risco para tromboses venosas, pese embora a sua semelhança estrutural com o plasminogénio, proteína fundamental na fibrinólise. Interessante é a constatação de níveis muito baixos de Lp(a) e o risco de desenvolver DM2. Estão em curso novas terapêuticas baseadas em pequenos ácidos nucleicos (siRNA/ ARN de interferência) que reduzem a produção hepática da apolipoproteína (a) e os  seus níveis plasmáticos, com resultados preliminares promissores na redução da DCVA.

Em resumo e como Take Home Messages:

- Dieta e estilo de vida saudável para todos ! A dieta vencedora vai para a dieta Mediterrânica (≥35 % gordura total, 22 % gordura mono-insaturada e restrição de colesterol <300 mg/dia), para homens na 5-6 décadas de vida, com doença coronária crónica (CORDIOPREV Trial).

- O alvo terapêutico para uma redução de eventos cardiovasculares por DCVA, são TODAS  as lipoproteínas aterogénicas:

. C-LDL: quanto mais baixo e mais precocemente, melhor;

. Lipoproteínas ricas em Triglicéridos (LRT): há um interesse renovado como alvo terapêutico, com terapêuticas baseadas em ácidos nucleicos dirigidos a dois importantes reguladores do metabolismo das LRT – ANGPTL3 e apoC-III;

. Lp(a), é um fator causal para DCVA e de Estenose Aórtica. Potencial alvo terapêutico com recurso a novas terapêuticas baseadas em ácidos nucleicos

*European Heart Journal (2023) 00, 1–3 https://doi.org/10.1093/eurheartj/ehac750

Alberto Mello e Silva
Assistente Graduado Sénior de Medicina Interna. Especialista em Cardiologia.
Membro do Conselho Científico da Sociedade Portuguesa de Aterosclerose.